“Dinheiro não cai do céu”, diz um ditado popular bastante conhecido, mas este não foi o caso de algumas pessoas que encontraram fragmentos da chuva de meteorito que caiu no município de Santa Filomena, no Sertão pernambucano, a 719 km do Recife. Quem achou os fragmentos está ganhando dinheiro com o comércio das pedras, que estão sendo negociadas com pesquisadores e ‘caçadores’ de meteoritos.
Porém, os achados não tem trazido somente riqueza, mas também medo e tensão. É o que relata o morador que encontrou o maior meteorito no município: 38,2 kg.
Com medo, o dono da pedra não quer ser identificado e conta que mal está saindo de casa.
“Isso virou um pesadelo. A gente passou uns dias sem comer e dormir. O objeto tem valor e todos têm interesse aqui, não são só os daqui. Se não tivesse valor, ninguém viria atrás, até do exterior”, relata a mulher do morador.
No momento da chuva dos fragmentos em Santa Filomena, o morador disse que ouviu o estrondo, mas só ficou sabendo do que se tratava depois. Dias após o fenômeno, ele decidiu procurar em sua propriedade se as pedras haviam caído por lá ou na região, na zona rural do município.
“Na quinta-feira (27), um morador me deu informação de onde houve um grande abalo, um estrondo, uma pancada, como se tivesse enfiado algo no chão. Ele me informou uma localização. Comecei as buscas no amanhecer. Quando foi por volta das 8h30 da manhã, consegui localizar a pedra”, conta.
Segundo ele, ela estava enfiada no solo. “Eu retirei e levei até uma estrada aproximadamente 2 km de distância dali, na mão, dentro da Caatinga, até chegar na minha moto. Aí trouxe para a cidade”, relata o morador.
Ainda sem acreditar no tamanho do achado, o homem procurou os pesquisadores para informar sobre a pedra de quase 40 kg que tinha caído em sua propriedade. Mas a repercussão do comércio das pedras foi tamanha que acabou com o sossego da família.
“A gente acha uma pedra dessa, e o pessoal já pensa que a gente virou milionário. Não é bem assim. A gente está muito tenso”, disse o homem que encontrou o meteorito.
Diretor-secretário da Sociedade Brasileira de Geologia e professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fábio Machado analisou imagens da pedra encontrada pelo morador de Santa Filomena. Para ele, trata-se de um meteorito – só falta saber de que tipo.
“Precisamos de testes para cravar que é do tipo condrito, mas é um meteorito. É uma importante amostra”, afirmou Machado.
‘Foi Deus que mandou’
Segundo a família, a pedra está em um cofre fora da propriedade. Apesar do susto e do medo, eles pensam em comercializar o meteorito, mas por um preço justo.
“Eu acredito que foi Deus que mandou pra gente, porque caiu dentro da nossa propriedade. A gente tem que segurar [a pedra] mesmo”, diz a mulher do homem que encontrou a pedra.
“A gente teve proposta, mas foi gente querendo se aproveitar e isso não nos interessa. Não temos pressa em negociar a pedra de forma alguma. A gente não deu preço a essa pedra. Não tivemos negociação com ninguém”, enfatizou a esposa.
A Prefeitura de Santa Filomena afirmou que ainda não sabe como proceder nesse caso, já que o município não tem uma legislação própria em caso de meteorito. Por telefone, o prefeito do município, Cleomatson Vasconcelos, afirmou que o município não tem condições financeiras de manter o meteorito por lá.
“A gente não pode criar uma expectativa na população que a gente não possa corresponder”, afirmou o prefeito. Ele disse ainda já entrou em contato com o Ministério de Ciência e Tecnologia e com a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco para ter orientações neste caso.
Santa Filomena tem 14.172 habitantes, segundo o IBGE. Cerca de 3 mil moram no centro, mas a maior parte está na zona rural, onde predominam plantações de feijão e mandioca.
Do G1