Giovanni Quintella Bezerra - Foto: Reprodução/Instagram
As mulheres da equipe de enfermagem — técnicas e enfermeiras — que trabalhavam com o anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso pelo estupro de uma grávida durante o parto no último domingo, decidiram reunir provas após desconfiarem do comportamento do médico em uma série de procedimentos.
A investigação culminou numa gravação chocante do crime, cometido numa sala de cirurgia do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Giovanni acabou atrás das grades graças à gravação, entregues à Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do município.
No dia da prisão, o médico participou de três cirurgias. Já na primeira, as enfermeiras estranharam o comportamento de Giovanni, que, com o capote, formava “uma cabana que impedia que qualquer outra pessoa pudesse visualizar a paciente do pescoço para cima”, conforme atestam depoimentos prestados na Deam. Segundo esses relatos, os anestesistas se posicionam, usualmente, do lado oposto, de forma que é possível ao restante da equipe ver o rosto da paciente.
Na segunda cesariana realizada no domingo, ainda de acordo com as declarações dadas à polícia, o médico usou o capote nele próprio, alargando a silhueta e, mais uma vez, se posicionando de forma que impedisse aos outros presentes enxergarem a gestante.
“Giovanni, ainda posicionado na direção do pescoço e da cabeça da paciente, iniciou, com o braço esquerdo curvado, movimentos lentos para frente e para trás; que pelo movimento e pela curvatura do braço, pareceu que estava segurando a cabeça da paciente em direção à sua região pélvica”, diz o termo de declaração.
Cada vez mais desconfiada, a equipe de enfermagem viabilizou a mudança do parto seguinte para outra das três salas de cirurgia disponíveis no hospital, na qual seria possível filmar Giovanni sem que ele percebesse. No novo espaço, escolhido — em cima da hora — pelos profissionais, um celular foi escondido dentro de um armário de vidro escuro, com ângulo de visão direcionado ao ponto onde estaria o anestesista.
Na gravação, que foi usada como elemento para o flagrante, é possível ver que Giovanni está a cerca de um metro de ao menos dois colegas de equipe, separados apenas por um lençol. Também é possível ver uma terceira pessoa ao fundo. Em geral, procedimentos deste tipo são acompanhados por dois cirurgiões, um anestesista, um técnico de enfermagem e um pediatra.
A gravação registrou todo o abuso. Quando Giovanni abre a calça, coloca o pênis para fora e o introduz na boca da grávida. O crime, de estupro de vulnerável, durou aproximadamente dez minutos. Ao final, ele aparece limpando a boca da paciente e o pênis dele com uma gaze, que é jogada no lixo. Esse material também foi recolhido e entregue pelas enfermeiras à polícia.
As funcionárias que organizaram a "operação flagrante" não acompanharam a terceira cesariana de dentro da sala de cirurgia,e só puderam ver as imagens que confirmavam o crime ao pegar de volta o celular. Por isso, não foi possível interromper o abuso no momento em que ele ocorreu.
— É de se destacar o profissionalismo da enfermagem e o papel exemplar desses funcionários do Hospital da Mulher. Eles são dignos de serem servidores públicos. Foram eles que coletaram as provas — elogiou a delegada Bárbara Lomba, titular da Deam de São João de Meriti e responsável pelo inquérito.
Veja, abaixo, um passo a passo de como funcionou a "operação flagrante" montada pela enfermagem:
Nas duas primeiras cirurgias do dia, as enfermeiras estranham o comportamento do anestesista, que, com o capote, formava 'uma cabana que impedia que qualquer outra pessoa pudesse visualizar a paciente do pescoço para cima'. O médico chega a fazer movimentos em que parecia estar 'segurando a cabeça da paciente em direção à sua região pélvica'.
Desconfiada da postura do médico, a equipe de enfermagem viabiliza a mudança do parto seguinte para outra das três salas disponíveis no hospital, na qual seria possível montar a 'operação flagrante'.
No novo espaço, escolhido a dedo — e em cima da hora — pelos profissionais, um celular é escondido dentro de um armário, com ângulo de visão direcionado ao ponto onde estaria o anestesista.
Por conta do vidro escurecido, não era possível, com a porta fechada, enquanto era feita a cirurgia, ver o aparelho sobre a prateleira realizando a gravação.
Posicionado ao lado da parte superior da paciente, e protegido pelo tecido que o separava dos outros profissionais na sala, o anestesista só é flagrado cometendo o abuso graças ao celular escondido. Nas imagens, é possível ver duas pessoas perto de Giovanni, separados pelo lençol, e outra ao fundo.
Ao final da filmagem, o médico aparece limpando a boca da paciente e o pênis dele com gaze. Todo o material foi entregue à polícia.
Via FolhaPE