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Para nós que vimos a Chesf nascer, foi um alívio acompanhar a entrevista do Ministro de Minas e Energia, almirante de esquadra Bento Albuquerque Júnior, na Globo News na última quarta-feira (veja AQUI). Além do alívio, a constatação de alguém altamente comprometido e à altura do cargo.
Vimos a Chesf nascer. Em 1948, eu já era nascido. Em 1955, vi a energia de Paulo Afonso chegar a Salvador. Nos anos sessenta, acompanhava com avidez os documentários do doutor Amaury sobre o nosso complexo nos trailers dos cinemas de Salvador. E a partir de 1973, passei a ser parte do grande sonho de redenção do Nordeste.
Nada mais consequente, portanto, que ouvir aliviado o ministro enfatizar que a Eletrobras, holding de valor atual estimado em 50 bilhões de reais, do qual a Chesf é parte, não será privatizada no Governo Jair Bolsonaro. A ideia é torná-la uma “corporation” capitalizada onde o Estado será um sócio minoritário. ”O melhor caminho é a capitalização, e não a privatização”, afirmou categórico. O tipo de controle da holding pelo governo e o número de ações para cada investidor se encontram em estudo. A Usina de Itaipu, por ser binacional, e as usinas atômicas de Angra dos Reis, por razões de segurança nacional, continuarão estatais.
Francisco Nery Júnior
A expectativa, segundo o ministro, é que a venda de ações, para a qual não faltam interessados, arrecade 18 bilhões de reais para a União. Baseado no fato que a Eletrobras retém apenas 30% da geração e transmissão de energia no país e que a ênfase para os próximos dez anos será na produção de energia eólica, solar e energia proveniente do gás natural (energia eólica já na casa de 13% da geração nacional), o ministro afirmou “nenhum sentido em a Eletrobras ser estatal”.
Outrossim garantiu não haver risco de apagão nos próximos dez anos e anunciou a substituição, dentro de dois anos, do óleo diesel pelo gás natural – que até agora era incompreensivelmente rejeitado – em usinas geradoras com uma redução de custo da ordem de sessenta e seis por cento. O Brasil, segundo o ministro Bento Albuquerque, baseado em publicações especializadas do exterior, será o quinto maior produtor de petróleo do mundo em vinte anos.
A construção épica da Chesf, com todos os episódios de verdadeiro heroísmo da parte dos pioneiros, não autoriza ufanismo da nossa parte. Não nos agrada vê-la sair do nosso colo; descaracterizar-se e perder o nosso afago. O que desejamos é vê-la cumprir o seu papel fundamental de geradora de riqueza para o Nordeste e para o país. É a nossa contribuição para o tão almejado desenvolvimento nacional. Nada, vale ressaltar, deve nos tornar menos vigilantes na guarda da integridade de um bem de todos nós. Nada nos fará sermos levados por uma retórica puramente semântica contra os interesses nacionais.
Por Francisco Nery Júnior