Nos três últimos anos, 163 crianças e adolescentes foram notificados em Pernambuco como portadores do vírus HIV. Nesse mesmo público, a média anual de mortes tem sido de dez. A preocupação com o grupo tem sido uma constante. Em fevereiro deste ano, o Governo implantou um comitê para investigar mortes entre os menores de 25 anos e agora anuncia um novo ambulatório para meninos e meninas soropositivos ou com suspeita da infeção. O serviço fica no Hospital Correia Picanço, que já era referência adulta para o HIV. O ambulatório tem capacidade para atender seis pacientes por dia, funcionará sempre às quintas-feiras e tem acesso por meio de encaminhamentos de outros centros de saúde.
Na estreia das consultas, ontem, uma mostra das problemáticas que cercam o atendimento infanto-juvenil, que na maioria das vezes envolve famílias inteiras em conflitos domésticos. “Minha filha sempre foi rebelde, vivia fugindo de casa e em uma dessas voltou para casa grávida aos 16 anos. Descobriu de tinha HIV já no terceiro mês da gravidez. Ela sabia e continuou como se nada tivesse acontecido. Foi só na hora do parto que ela disse aos médicos que era soropositiva e fizeram a cesariana junto com o AZT”, lamentou uma dona de casa de 36 anos, que carregava o neto de seis meses no colo.
O menino, segundo os primeiros exames, nasceu sem o vírus, mas terá que ser monitorado pelo menos até o 1º ano de vida, quando os resultados devem ser conclusivos para a infecção ou não. A avó carrega consigo uma história conturbada com a filha. “Já tinha feito de tudo para que ela se tratasse. Procurei o Conselho Tutelar, expliquei a situação e eles interviram para que ela viesse aqui”, contou.
Outra paciente, também dona de casa, 21, com a filha de 1 ano e 4 meses. Aos nove meses de gestação, a jovem descobriu o vírus. A filha também precisava repetir os exames para descartar o vírus. Visivelmente abalada, a moça, que é natural do Rio de Janeiro, era apoiada pela avó que reside em Pernambuco. “Ela era casada e foi ele quem passou a doença. Ele sabia e não disse nada. A companheira anterior dele ficou doente e a filha deles também. Quando fiquei sabendo perdi o chão”, confidenciou. A infectologista infantil Paula Cavalcanti explicou que a entrada do Correia Picanço no atendimento ajudará a desafogar o Imip e o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), que eram as únicas unidades do Estado para esse público.
Com relação aos adolescentes, a gerente do programa estadual de IST/Aids, Camila Dantas, enfatizou como desafios nesta fase de transformações e autoconhecimento os seguintes aspectos: o preconceito em saber o status sorológico, a negativa de adesão ao coquetel e os mitos da prevenção. “Estamos formulando um plano para melhorar essa questão de prevenção positiva, seja daqueles que já vivem com o vírus, ou os que não tem”, disse.
Via Folhape