Parlamentar europeu cobra governo italiano sobre risco de fuga de Bolsonaro

Bolsonaro ao lado de Matteo Salvini/Imagem: Gabinete de Matteo Salvini/Via AFP

Num comunicado oficial, um parlamentar europeu cobrou respostas do Ministério de Relações Exteriores da Itália sobre a decisão dos filhos do presidente Jair Bolsonaro de fazer gestões para garantir a cidadania italiana. Segundo a liderança parlamentar, o temor é de que o presidente também tenha tomado medidas no mesmo sentido, o que poderia sugerir alguma movimentação para escapar de processos no Brasil.

A iniciativa foi de um dos líderes do movimento Europa Verde e parlamentar da Aliança Verde e de Esquerda, Angelo Bonelli.

Na segunda-feira, o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro foram até a embaixada da Itália em Brasília para adiantar o processo de obtenção de cidadania italiana. Por meio de nota, o senador disse que o processo começou em 2019 e que, "antes que comecem a criar teses mirabolantes, sair do país não é uma opção para mim".

Mas o que o parlamentar italiano quer saber, agora, é se foram apenas os filhos quem tomaram a iniciativa ou se isso também envolve o presidente.

"Fiz uma pergunta ao Ministro das Relações Exteriores Antonio Tajani para saber se a cidadania italiana solicitada pelos filhos do presidente brasileiro Jair Bolsonaro será ou não concedida", disse. Segundo ele, "o senador Flávio Bolsonaro foi acusado de usar funcionários fictícios para inflar sua renda quando era deputado estadual no Rio de Janeiro".

"Uma prática generalizada na família, segundo os investigadores: de 1990 até hoje, os Bolsonaros compraram 107 apartamentos, metade dos quais em dinheiro. O terceiro filho, Eduardo Bolsonaro, agora deputado, está envolvido no caso da "milícia digital", escreveu o deputado.

"Perguntamos se o embaixador italiano no Brasil, Francesco Azzarello, também recebeu o pedido do presidente sobre uma cidadania italiana", esclareceu.

"Na pergunta lembrei que, apesar da proximidade de Bolsonaro, tanto à primeira-ministra Georgia Meloni quanto ao Vice-Primeiro Ministro, Matteo Salvini, que reafirmaram seu apoio a ele nas eleições de quinze dias atrás, ele e seu partido foram responsáveis pela devastação da Floresta Amazônica e pela violação dos direitos humanos e, por isso, ele está em julgamento por crimes contra a humanidade, com o Senado brasileiro iniciando um "estado de acusação", disse.

"Se Bolsonaro também tivesse pedido a cidadania italiana, haveria um sério risco de que a família, em relação aos julgamentos envolvendo o presidente, quisesse usá-la para evitar ser julgada pelos tribunais", alertou. "Isso seria inaceitável", conclui Bonelli.

Cidadania Honorária questionada na Justiça

Em 2021, o presidente Jair Bolsonaro recebeu a cidadania honorária de Anguillara Veneta, cidade de seus antepassados na Itália. Mas os moradores da cidade e Partido Europa Verde recorreram à Justiça com a apresentação de uma ação popular em que pedem que a honraria seja anulada. Hoje, o caso está na Corte de Cassação.

A cidade é o berço da família do presidente. Vittorio Bolzonaro saiu da região com sua família para o Brasil, por volta de 1878. A mudança da ortografia no nome ocorreu por conta de um erro no cartório.

Usando esse argumento das origens italianas do chefe de estado brasileiro, a prefeitura da cidade teve a iniciativa de homenagear Bolsonaro.

Mas uma ação popular foi protocolada no tribunal de Padova no final de janeiro pelos advogados Donato Lettieri, Lucia Colangelo e Giovanni Colangelo, ligados ao partido Europa Verde.

O documento de 23 páginas, ao qual a reportagem teve acesso com exclusividade, denuncia a prefeita Alessandra Buoso e oito vereadores que compõem o quadro de seu governo.

A ação pede que a resolução nº 27, pela qual foi concedida a cidadania honorária a Bolsonaro, seja considerada "ilegítima ou nula, pois a identidade e imagem da prefeitura foram lesados após terem sido associadas a expressão de valores conflitantes com os valores históricos, tradicionais e culturais do município de Anguillara Veneta".

Desde 1993, o pequeno município tem o título de "cidade da paz e dos direitos humanos". Não por acaso, religiosos, a ala moderada dos políticos locais, sindicatos e outros grupos tentaram impedir que o projeto de receber Bolsonaro fosse adiante.

Hoje, a prefeita é do partido Liga, liderado por Matteo Salvini, um admirador de Bolsonaro e que foi até a região para encontrar seu aliado político.

Mas, naquele momento, a sede da prefeitura ainda amanheceu pichada com a frase "Fora Bolsonaro" e suja de esterco. O protesto foi organizado pelos ambientalistas do 'Rise Up 4 Climate Justice'.

Para Bonelli, Bolsonaro não tem requisitos para ter recebido a cidadania honorária. "Ele causou a morte de 600.000 pessoas, muitos deles índios, e que levou o Senado brasileiro a votar a favor de indiciar o presidente por crimes contra a humanidade", disse.

Por UOL

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