Imagens/redes sociais
Uma caminhonete S-10 da Chevrolet foi retida e guinchada na noite desta quinta-feira, 7 de julho, pela Polícia Rodoviária Federal, no município de Paulo Afonso, Bahia. Um procedimento aparentemente comum, uma vez que na abordagem foram constatadas duas irregularidades, uma delas já notificada desde dezembro de 2021. Porém, dentro do carro estava uma família de Caraibeiras, distrito de Tacaratu (PE), que voltava de Paulo Afonso com um bebê de um mês doente e com febre.
O caso foi gravado e compartilhado nas redes sociais pelo próprio pai e condutor do veículo. Em um dos vídeos, ele se mostrou revoltado: “Eu vim para Paulo Afonso hoje fazer uma consulta com meu filho de um mês que tá doente porque lá em Tacaratu não tem médico, aí você vem pra cá, paga uma consulta de R$ 250, gasta R$ 200 de combustível por uma estrada que não vale nada, aí você vem pela outra estrada para não ser roubado que é onde tem a Polícia Rodoviária Federal. Meu carro está com o para-brisa trincado e não tem em canto nenhum, nem na Chevrolet, já pedi, não tem e nem achei pra comprar. O que é que o agente fez, multou, tá certo, está no direito dele de multar, multou porque a criança estava sem a cadeirinha, tá certo, não comprei a cadeirinha (eu) estava errado, muito bem tá certo. Agora, levar o carro para o pátio por causa de um tricadinho no para-brisa de um carro e deixar uma criança de um mês de idade doente e não liberar o carro, a criança com febre e doente?, um agente desse, ele pensa o quê?, eu perguntei pra ele se ele tinha filho.”
Em outro vídeo, já depois do veículo ter sido apreendido e rebocado, o homem ainda mais indignado mostra a família no pátio da PRF com o bebê no colo da mãe aguardando uma solução para o caso:
“Está parecendo até uma brincadeira, o agente multou, levou o carro para o pátio e depois disse que ia levar a gente no carro até a nossa residência que a gente não tem carro aqui em canto nenhum, chegou agora e disse que não tem autorização para levar a gente não, antes ele disse que ia levar a gente ou então ia dar uma ajuda e arrumar um carro pra levar a agente, um táxi aí agora veio e deixou a gente aqui sem carro, nem nada…”
Noutra gravação, o homem xinga o policial e diz que era uma covardia o que estavam fazendo, e reforça os argumentos. “Não dá nem para ver a trincadura, no para-brisa ele nem chegou a ver, ele viu porque puxou e viu que havia notificação. Eu expliquei para ele, fui atrás e não achei”. Os vídeos repercutiram e geraram muitos debates nas redes sociais.
O que diz a Polícia Rodoviária Federal de Paulo Afonso
Polícia Rodoviária Federal – Paulo Afonso (BA). Foto: Divulgação
Procurado pela equipe do site pa4, o inspetor Rodolfo Mello, responsável pela PRF de Paulo Afonso defendeu o colega ao afirmar que ele agiu corretamente e dentro da lei. De acordo com o agente, o proprietário do veículo havia sido notificado da irregularidade há seis meses e não tomou as providências.
“Ele não conta a história direito, ele não conta que o veículo dele foi abordado e notificado em dezembro de 2021 justamente por estar com esse vidro quebrado, vidro trincado. Foi dado o prazo para ele apresentar o veículo regularizado, ele não regularizou nesse tempo inteiro. Então, hoje depois de seis meses, ele foi parado novamente e não tinha regularizado, ou seja, mais de seis meses ele não conseguiu trocar uma para-brisa no veículo dele, ele não contou isso. Outra coisa que ele não contou é que a criança, principalmente um bebezinho de um mês, ele tem que estar dentro de um “bebê conforto’ que é para dar segurança ao neném, então ele não estava devidamente seguro.
“O cidadão não contou a história toda”
“Se fosse a primeira vez, seria dado o prazo para ele regularizar, mas quando já é a segunda vez e a pessoa não regulariza aquela infração, o veículo tem que ser removido ao pátio para a pessoa corrigir o veículo. Então, o cidadão ele não conta a história toda.”
Era perigoso levar a família até Tacaratu à noite numa viatura caracterizada
“Ele fala que o policial ia ver a possibilidade de levar a família dele, isso a gente faz várias vezes, só que é perigoso à noite, principalmente para distâncias maiores, no caso de Paulo Afonso até Tacaratu você levar uma família dentro de uma viatura de polícia caracterizada. Você pode inclusive se deparar com um assalto a banco, com uma quadrilha, e as pessoas não estarão bem protegidas, o policial ainda tem um colete balístico, mas a viatura caracterizada, para grande distância principalmente, é muito perigoso. O ideal é que a pessoa que está tendo o veículo recolhido providencie um táxi, um parente que vá buscar, mesmo assim, o colega tentou, mas quando viu que era para Tacaratu ficava muito difícil para ele fazer isso. Se fosse dentro da cidade de Paulo Afonso era menos problemático e daria um jeito de resolver esse problema, mas para Tacaratu que é uma cidade que fica a 70, 80 quilômetros de Paulo Afonso, você levar um bebê sem o bebê conforto, a mãe, tudo errado, não teria como. Então, ele não contou isso. O policial agiu devidamente dentro da lei, tudo dentro dos conformes da legislação.”
Vai acionar a justiça por vídeos
“A gente vai tomar as medidas cabíveis em relação a isso, (medidas) judiciais, ele (xingou) o colega, aí vai ser uma questão de foro íntimo, provavelmente vai acionar ele na justiça, ele também falou coisas da Polícia Rodoviária Federal e a gente vai encaminhar esses vídeos, essas questões todas ao jurídico da PRF onde lá farão o juízo de valor em relação a isso”, finalizou Rodolfo
O que diz a lei
Em vigor desde o final do ano passado, a Lei 14.229/21, modificou alguns trechos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e outras legislações sobre veículos. Uma das mudanças determina que caso um motorista seja parado em blitz, ele pode se livrar do guincho e ser liberado para seguir com o carro. Ele não escapa da multa, mas tem até 15 dias para regularizar o veículo. Se o condutor não regularizar a situação no prazo, o Detran deverá registrar uma restrição no Renavam até a regularização, sujeitando o condutor à remoção do veículo ao depósito.