Bolsonaro questiona eficácia de máscaras em dia de recorde de mortes por Covid-19 no Brasil


O presidente Jair Bolsonaro afirmou na noite desta quinta-feira, sem apresentar nenhuma prova, que começaram a aparecer efeitos colaterais do uso de máscaras na proteção contra a Covid-19. Ele citou um estudo de “uma universidade alemã”, sem especificar qual, que apontaria a proteção como prejudicial a crianças, com uma série de efeitos adversos.

A declaração, feita durante transmissão ao vivo pela internet, ocorreu no dia em que o Brasil registrou o recorde de mortes em um dia e superou a marca dos 250 mil óbitos por conta da pandemia da Covid-19. O país enfrenta ainda um colapso iminente do atendimento hospitalar em diversos estados brasileiros.

— Pessoal, começam a aparecer estudos aqui, não vou entrar em detalhe, né?, sobre o uso de máscaras. Que, num primeiro momento aqui uma universidade alemã fala que elas são prejudiciais a crianças, e levam em conta vários itens aqui, como irritabilidade, dor de cabeça, dificuldade de concentração, diminuição da percepção de felicidade, recusa em ir para a escola ou creche, desânimo, comprometimento da capacidade de aprendizado, vertigem, fadiga… Então começam a aparecer aqui os efeitos colaterais das máscaras, tá ok? — declarou o presidente no meio da sua live semanal de quinta-feira, olhando para um papel.

Bolsonaro disse que não entraria em mais detalhes sobre a questão porque, segundo ele, “tudo desagua em crítica” contra ele. E sinalizou mais uma vez ser contrário ao uso das máscaras.

Desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde orienta o uso de máscaras para evitar o contágio, principalmente em ambientes fechados, onde não há possibilidade de manter mais de um metro de distância entre as pessoas. A recomendação inclui crianças.

Até mesmo o Ministério da Saúde indica o uso do equipamento de proteção individual para crianças acima de 2 anos (as máscaras não são indicadas para menores de dois anos pelo risco de asfixia). A orientação é que até os 5 anos os pequenos sejam supervisionados por um adulto, principalmente quando estiverem realizando atividades que exijam esforço físico.

— E eu tenho a minha opinião sobre máscara, cada um tenha a sua. Mas a gente aguarda um estudo mais aprofundado sobre isso por parte de pessoas competentes, declarou.

O presidente demonstra resistência ao uso de máscaras desde o início da pandemia, em março do ano passado, e já declarou, em novembro, que elas serão “o último tabu a cair”, questionando sua “efetividade”.

Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, a criança deve ser orientada a usar máscara em todos os lugares que ela for, e não apenas na escola, para não ficar uma “âncora negativa” apenas quando a criança vai para a escola.

Para a especialista, aliás, neste momento o presidente deveria estar concentrado em fornecer informações que dissessem às famílias a importância de usar máscaras e a importância de reduzir a transmissão do vírus para podermos controlar a pandemia:

—  Aliás, ele deveria dizer que neste momento deveríamos usar máscaras filtrantes mais potentes, não em crianças porque não existe, mas em adultos, como a PFF2 ou N95. Para quem não pode comprar essas máscaras, a recomendação é usar duas caseiras. Esta é a recomendação que os países estão dando agora e que o Brasil deveria estar fazendo, e não essa desinformação e desserviço. Essa ação é criminosa, porque desinforma a população sobre uma das poucas ferramentas que sabemos que faz efeito na diminuição da transmissão do vírus.

O Globo

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