O Palácio do Planalto entrou de cabeça na articulação para derrotar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na disputa pela sucessão do comando da Casa, em fevereiro do ano que vem.
Integrantes do governo têm conversado com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), além de negociar com parlamentares para garantir apoio a um projeto que vete Maia do comando da Casa por mais dois anos.
Na negociação, parlamentares já cobram cargos, como ministérios — e governistas admitem que entrarão na roda ministérios importantes a depender do tamanho do adversário do candidato do governo. Nas palavras de um interlocutor do presidente: “O governo vai entrar com uma mão, com uma força se for Maia e, com outra, se for um candidato do grupo dele”.
Nos últimos dias, parlamentares do Centrão procuraram interlocutores de Bolsonaro para pedir a troca de ministros no governo. Entre eles, a troca do ministro Luiz Eduardo Ramos, da secretaria de governo, de Onyx Lorenzoni, na Cidadania, e de Ricardo Salles, no Meio Ambiente.
Segundo o blog apurou, nas negociações pela sucessão na Câmara, o governo não descarta colocar à disposição o cargo de secretário-geral — que ficará vago com a saída de Jorge Oliveira para o TCU —, mas não a de Ramos.
Na avaliação de fontes ouvidas pelo blog, se Maia não conseguir emplacar o seu próprio nome ou Aguinaldo Ribeiro para a sucessão na Câmara, um outro nome passou a ser cotado nos bastidores hoje: o do deputado federal Fernando Coelho (DEM-PE), filho do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, e amigo de Maia.
O candidato do governo é Arthur Lira, do PP de Alagoas, mas a Câmara está rachada a respeito do seu candidato adversário — além de estar na expectativa da decisão do STF sobre a liberação ou não da reeleição na Casa —, o que hoje é vedado pela Constituição.
Maia reuniu parlamentares aliados nesta semana para dizer que não é candidato à reeleição, mas trabalha para fazer seu sucessor. O Planalto não acredita que Maia não será candidato, tampouco parlamentares do próprio grupo político do presidente da Casa. Segundo o blog apurou junto a ministros do STF, há uma tendência da corte de avaliar como questão interna do Congresso a reeleição, o que abriria caminho para a recondução de Maia.
Nos bastidores do STF, o nome de Arthur Lira é visto com ressalvas. Ministros da corte lembram a integrantes do governo que Lira é réu por corrupção passiva por decisão da primeira turma do STF. E, reservadamente, temem seu perfil político por ter sido aliado e defensor de Eduardo Cunha, cassado e preso pela Lava Jato. A defesa do deputado nega as acusações.
Diante desse cenário, a expectativa na Câmara é a de que a corte libere a reeleição propondo ser um tema interno dos congressistas. Ocorre que, dentro da Casa, deputados estão rachados sobre apoiar Maia, e defendem um nome apoiado pelo presidente da Câmara para derrotar o governo.
Apostas de aliados de Maia
Entre as apostas do grupo de Maia, estão Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP). No caso de Aguinaldo, aliados de Bolsonaro afirmam que se ele for escolhido, Maia perde o argumento de que Lira tem problemas na justiça, já que Ribeiro também virou réu no STF por supostos desvios na Petrobras. A defesa do deputado também nega as acusações.
O presidente da Câmara tem feito conversas com a oposição para discutir a sucessão. Na avaliação do Planalto, apesar de PT e PSB sinalizarem que não apoiarão uma candidatura à reeleição, poderão, sim, apoiar um candidato do presidente da Casa. Já para o grupo de Maia, PSB e PDT vão marchar juntos — repetindo a dobradinha vitoriosa na eleição municipal — e querem derrotar o candidato do governo. O grupo conta também com PT, além de DEM, PSDB e MDB.
Nas contas desse grupo, estão com Lira o “núcleo duro” do chamado Centrão: PP, PL e PSD.
A aposta de Maia é que a diferença será feita pelo apoio da esquerda, que não apoiará um candidato do governo Bolsonaro.
Durante a campanha municipal, Maia fez acenos e gestos que, para o Planalto, foram movimentos em busca de apoio pela Câmara. Ele foi a Fortaleza e gravou apoio ao candidato de Ciro Gomes, Sarto, eleito para comandar a prefeitura.
Em São Paulo, também foi encontrar João Doria (PSDB) na reta final da campanha, para reforçar o apoio a Bruno Covas.
Nesta semana, entrou em campo o presidente do DEM, ACM Neto, que, em conversas em Brasília, soube que, se o STF liberar também a reeleição, o MDB já avisou que quer ter candidato ao Senado. Hoje, o DEM tem as duas cadeiras — Câmara e Senado.
Do Blog de Andréia Sadi