Rodovias problemáticas e falta de voos comerciais regulares na maioria dos aeródromos estaduais ainda são entraves à interiorização do turismo em Pernambuco. Em meio às dificuldades, da Zona da Mata ao Sertão, há municípios que se valem dos atrativos naturais ou da vocação para os negócios e conseguem atrair visitantes.
O interior é considerado a nova fronteira para o turismo de Pernambuco. Investimentos em hotelaria, parques de aventura e novos equipamentos de lazer têm ampliado a visibilidade de municípios que despertaram para o potencial da atividade turística como indutora de desenvolvimento. Casos de Gravatá e de Bonito, ambos no Agreste, para ficar em dois exemplos que concentram as novidades mais recentes no setor.
Por outro lado, a falta de atendimento a requisitos mínimos de gestão na área, como ter um Conselho de Turismo, fez outras 30 cidades serem cortadas do Mapa do Turismo nacional. Entre elas, Serrita, que realiza a tradicional Missa do Vaqueiro, e Exu, que abriga o Museu de Gonzagão. Até que voltem a se enquadrar nas exigências, esses municípios estarão impedidos de receber recursos do governo federal para projetos na área.
Tendo a interiorização como uma das suas bandeiras, o secretário estadual da pasta, Rodrigo Novaes, admite que a “falta de cumprimento de instâncias de governança é negativa para qualquer cidade”. Mas contemporiza, dizendo que o Mapa do Turismo “não baliza as ações do Estado”, e cita o programa Bora Pernambucar como alternativa para levantar as necessidades dos municípios e qualificá-los.
As dificuldades de gestão, no entanto, não são a única barreira ao crescimento do turismo no interior. Assim como ocorre na capital e na Região Metropolitana do Recife (RMR), as deficiências de infraestrutura representam o maior entrave.
Principal via de acesso ao Agreste e ao Sertão, a BR-232 há tempos pede reforma. Buracos constantes no asfalto expõem a falta de drenagem. Canteiros deteriorados e acostamentos tomados pelo mato também são cenas que se repetem ao longo dos seus 552 km. “Além da BR-232, muitos municípios do interior são acessíveis pelas estradas estaduais, que precisam estar em condições para o deslocamento rápido e seguro dos turistas. É necessário fazer uma sinalização alusiva à região turística, pois os visitantes muitas vezes nem sequer percebem que estão numa área com vários atrativos”, analisa o professor do departamento de Hotelaria e Turismo da UFPE Luís Souza.
A secretária de Infraestrutura e Recursos Hídricos de Pernambuco (Seinfra), Fernandha Batista, justifica que R$ 505 milhões do governo do Estado estão sendo aportados no Projeto Caminhos de Pernambuco, lançado em maio deste ano, com prazo de conclusão até dezembro de 2022. No caso da BR-232, diz, estão sendo realizados “trabalhos emergenciais”, que até setembro já consumiram mais de R$ 5 milhões. “Além da manutenção asfáltica, a estrada será beneficiada, gradativamente, com os serviços de limpeza, roço, drenagem e sinalização”, explica. A requalificação completa da rodovia, contudo, ainda está em fase de discussão com o governo federal e envolve custos estimados em R$ 100 milhões.
AVIAÇÃO REGIONAL
Com a malha rodoviária deficitária e a ferroviária quase inexistente, os aeroportos regionais são apontados como uma importante alternativa para viabilizar negócios e turismo nas regiões mais distantes dos grandes centros. Hoje, dos sete aeródromos de Pernambuco sob administração estadual (Araripina, Arcoverde, Caruaru, Fernando de Noronha, Garanhuns, Salgueiro e Serra Talhada), apenas o de Noronha opera voos comerciais. Os outros recebem pequenas aeronaves privadas e de cargas.
Há mais de um ano, o governo do Estado prevê frequências regulares também no Aeroporto Santa Magalhães, em Serra Talhada, e no Oscar Laranjeiras, em Caruaru. Já há até companhia s aéreas interessadas na operação, como a Azul. “Estou louco para começar a atuar em Serra Talhada e Caruaru, mas (os aeroportos) não estão prontos ainda”, diz o presidente da empresa, John Rodgerson.
Em uma perspectiva otimista, a liberação dos terminais só deve ocorrer no fim do primeiro semestre de 2020. Sobre o aeródromo de Serra Talhada, a Seinfra diz que há a previsão de um aporte de R$ 20 milhões, proveniente de convênio celebrado entre o governo estadual e a União. Os recursos contemplam a elaboração dos projetos e a execução das obras, a exemplo de drenagem, terraplenagem e implantação de cerca patrimonial. Os projetos estão em análise pela Secretaria de Aviação Civil, e a expectativa é de que a licitação seja autorizada ainda este mês.
Para o terminal de Caruaru, está em fase final de elaboração o projeto para o balizamento noturno do aeródromo. O edital de licitação está previsto para dezembro. A Seinfra informa que trabalha, ainda, na aquisição de equipamentos de raio-x e da estação meteorológica (EMS-A), que envia, em tempo real, as informações climáticas para que o piloto possa decolar e pousar em segurança. Para esta última, contou com recursos de R$ 2 milhões de emenda parlamentar.
Em paralelo à estruturação dos aeródromos, a secretaria lançou no fim de setembro um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para iniciar os estudos de concessão dos terminais por 30 anos. Quatro empresas foram habilitadas e devem entregar as propostas nos próximos quatro meses, mas a conclusão do processo só deve ocorrer em dois anos. “Antes disso, já teremos a operação comercial”, garante a secretária Fernandha Batista, acrescentando que os demais aeródromos estão nos planos de longo prazo.
Somente a operação de Serra Talhada, a 414 km do Recife, deve ter impacto pelo menos sobre outros 14 municípios. “A chegada de um aeroporto aqui na região deve impulsionar a atração de mais turistas, inclusive de estrangeiros. Precisamos estar prontos”, anima-se Laydson Santos, dono de um receptivo na cidade de Triunfo.
Via PE Notícias