Bolsonaro: após cinco meses de gestão, presidente visita a região que o derrotou nas urnas


A reunião vai acontecer em território Pernambucano, sob a arquitetura do Instituto Ricardo Brennand (IRB), no bairro recifense da Várzea. Erguido nas terras do antigo engenho São João, o espaço guarda o DNA das culturas pernambucana e nordestina. Preparado para receber mais de 300 convidados, o lugar será o cenário da primeira visita oficial do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao Nordeste. A investida é uma tentativa de se aproximar da região onde perdeu nas urnas para o candidato petista Fernando Haddad em todos os Estados e onde está a maior rejeição a seu governo, com 40% dos nordestinos avaliando a gestão como ruim ou péssima. Antes mesmo de pisar no Recife, nesta sexta-feira (24), ao longo da semana as redes sociais já refletiam a rejeição. Hastags como #NordesteCancelaBolsonaro e #AquiNão se contrapunham aos apoiadores #NordesteComBolsonaro. O clima tenso não deve se refletir no encontro com os governadores. Apesar de quase todos serem de oposição, eles querem aproveitar o momento para abrir uma frente de diálogo – até então quase inexistente – com o presidente. 

A primeira agenda de Bolsonaro será às 10h, no Instituto Ricardo Brennand, para lançar o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE), elaborado pela primeira vez no âmbito da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). O documento preliminar de 172 páginas foi discutido e escrito em seis meses e contou com a participação de 20 técnicos da autarquia, além de 15 consultores de diversas áreas. Os governos dos Estados (nove do Nordeste, além de Minas Gerais e Espírito Santo, que integram a área de atuação da Sudene) também contribuíram, apresentando quase 900 propostas. O plano será votado na reunião do Conselho Deliberativo (Condel) da Sudene e, depois de aprovado, vai para o Congresso e deve virar lei tramitando junto com o Plano Plurianual (PPA) 2020-2023. Apesar da entrada no PPA, dando mais garantia à execução das obras, o governo Federal não sabe qual será a necessidade de investimento nem o que vai caber no PPA (diante de tantas demandas). Por isso, a viabilidade vai depender de muita articulação política, o que vem faltando na gestão Bolsonaro. 

O PRDNE apresenta uma agenda de desenvolvimento para a região num horizonte de 12 anos (2020-2031), com vigência de quatro anos e revisão anual. Apesar de vir em boa hora, num momento de retomada pós-recessão, a elaboração do plano nesse momento não é obra do acaso. A economista Tania Bacelar, sócia diretora da Ceplan e especialista em desenvolvimento regional, explica que a Lei Complementar 125/2007, que instituiu a “nova Sudene”, estabelece o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste como um dos instrumentos de ação da Sudene para reduzir as desigualdades regionais. Apesar de existir uma obrigatoriedade, o plano nunca foi realizado (desde 2007). Isso acabou motivando a realização de uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), coordenada pelo presidente José Múcio, para explicar essa lacuna de 12 anos sem a elaboração do PRDNE. No seu parecer, José Múcio, que é pernambucano, faz um balanço da desigualdade na região. 

O lançamento do plano acontece no momento em que Bolsonaro decide fazer uma ofensiva na região, prometendo apresentar uma Agenda Nordeste, coordenada pelo Ministério de Desenvolvimento Regional, com participação de várias outras pastas. A expectativa é que algumas ações sejam divulgadas hoje, já que o presidente deu declarações dizendo que não queria chegar na região “com as mãos abanando”. Uma das prioridades seria a água. Durante a campanha presidencial, Bolsonaro prometia trazer a tecnologia de dessalinização de Israel para o Nordeste. O Ministério da Infraestrutura foi convocado para apresentar projetos na área de rodovias. 

GOVERNADORES

Com um discurso alinhado, os governadores nordestinos vão colocar na mesa a necessidade de concluir obras de infraestrutura que se arrastam, além de atrair novos investimentos e estruturar o futuro da região que, na avaliação deles, está baseado na educação. O governador Paulo Câmara (PSB) destaca a necessidade de diálogo entre os gestores da região para garantir conquistas. “Acabamos de fazer um consórcio regional para facilitar a compra de medicamentos para equacionar o desabastecimento e evitar prejuízo a vida das pessoas”, diz o socialista. 

Na avaliação do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), é preciso concluir obras que permitem uma integração regional, como os investimentos complementares da Transposição do São Francisco e uma definição sobre como fica a Transnordestina. “O plano regional é importante para evitar que cada Estado faça ações pontuais ao invés de pensar em projetos estruturantes que possam ajudar a todo o Nordeste brasileiro”, defende, listando as intervenções em rodovias, investimentos em logística, ferrovia e recursos hídricos. 

O governo baiano aposta na retomada dos investimentos. “A nossa principal reivindicação é que finalmente possamos ver retomados os investimentos no Nordeste. Há um instrumento da Sudene, o Fundo de Incentivo ao Financiamento a Infraestrutura do Nordeste, que inclui apoio a empresas que queiram se instalar na região, além de financiamento para obras estruturais”, observa o governador Rui Costa (PT).

A agenda apertada talvez não permita ao presidente visitar o Museu de Armas Brancas no IRB, que tem um acervo de 3 mil facas, espadas, canivetes, estiletes e armaduras. É que logo depois do encontro com os governadores, Bolsonaro segue para Petrolina (Sertão) onde vai participar, às 14h30, da cerimônia de inauguração do Residencial Morada Nova, um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida com 472 unidades. 

Via PE Notícias

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