O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, rompeu o silêncio nesta quarta-feira (21.03) sobre o escândalo do uso de dados pessoais em sua rede social, assegurando que a companhia cometeu "erros" e deve fazer mais para resolver o problema.
"Temos a responsabilidade de proteger seus dados e se não pudemos, não merecemos servi-los", escreveu em seu mural Zuckerberg no primeiro que fez após o escândalo vir à tona. "As medidas mais importantes para isto não ocorrer de novo foram tomadas há anos, mas também cometemos erros e há mais por fazer", acrescentou.
Zuckerberg se disse "responsável do que acontece" no Facebook e prometeu oferecer aos usuários uma melhor utilização de seus dados pessoais.
O Facebook está no meio de uma tempestade, depois que a empresa de análise de dados Cambridge Analytica (CA) foi acusada de ter obtido sem consentimento dados de 50 milhões de usuários para elaborar um programa que permite prever a votação dos eleitores, com o qual influenciou a campanha presidencial de Donald Trump em 2016.
O psicólogo que desenvolveu o aplicativo que serviu à Cambridge Analytica para obter os dados dos usuários para fins eleitorais disse nesta quarta-feira que o mesmo era legal e se ajustava aos termos de uso.
Aleksandr Kogan, professor de psicologia da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, lamentou, em declarações à BBC, que tanto o Facebook quanto a Cambridge Analytica o estejam usando como "bode expiatório", ao culpá-lo de uso ilegal de dados pessoais.
"Minha opinião é que estou sendo usado basicamente como pode expiatório", defendeu-se Kogan, no centro de um escândalo que custou ao Facebook uma desvalorização de 7% na bolsa de Nova York em três dias - nesta quarta-feira, seus papéis recuperaram 2%, após perder 9%.
"Honestamente, pensava que agíssemos de forma apropriada, achava que fazíamos algo normal", avaliou o psicólogo, nascido na Moldávia e criado na Rússia até que sua família se mudou para os Estados Unidos quando ele tinha 7 anos, segundo dados biográficos citados pelo "Varsity", um jornal de Cambridge.
Este pesquisador desenvolveu um aplicativo denominado "This is Your Digital Life" (Esta é a sua vida digital).
Tratava-se de uma das centenas de pesquisas aparentemente inofensivas que circulam no Facebook e em outras redes sociais, do tipo "Que Pokemon é você?" ou "Quais são as palavras que você mais usa?".
Cerco ao Facebook
O caso alavancou um movimento de debandada do Facebook, uma iniciativa que recebeu o apoio, nesta quarta-feira, de um dos fundadores do WhatsApp.
"Apague o Facebook" (#deletefacebook") escreveu Brian Acton no Twitter, recorrendo à hashtag que se popularizou nestes dias. "Apague e esqueça. É hora de dar importância à privacidade".
A pesquisa de Kogan era um teste de personalidade que questionava os usuários se são extrovertidos, vingativos, se acabam os projetos que começam, se tendem a se preocupar ou se gostam de arte, entre muitas outras coisas.
O método serviu para reunir dados de 270.000 usuários do Facebook, mas também para obter os dados dos amigos destes na rede social.
No total, segundo um ex-funcionário da Cambridge Analytica, a consultoria obteve dados de 50 milhões de pessoas que acabaram sendo usados para transmitir-lhes mensagens eleitorais sob medida.
Kogan foi contratado pela Cambridge Analytica, que tem entre seus fundadores Steve Bannon, que acabaria trabalhando como estrategista de campanha de Donald Trump.
Os resultados básicos obtidos pela pesquisa se combinavam com dados retirados dos perfis e amizades do Facebook para conseguir uma longa lista de traços de um usuário, a quem se poderia destinar uma mensagem eleitoral mais ou menos sob medida.
Sandy Parakilas, que foi o encarregado no Facebook de zelar para que terceiros não fizessem mau uso da informação obtida na rede social, se apresentou a uma comissão do Parlamento britânico e acusou sua ex-empresa de "perder de vista" os dados dos usuários.
Por enquanto, a rede social proibiu a Cambridge Analytica e Kogan de usar sua plataforma, e na terça-feira se disse escandalizada por ter sido "enganada", assegurando "entender a gravidade do problema".
A primeira-ministra conservadora britânica, Theresa May, disse nesta quarta-feira no Parlamento que SCL não tem atualmente contratos com o governo.
"As acusações são claramente muito preocupantes e está bem que investiguem como se deve", acrescentou May.
Por: AFP